sábado, 24 de setembro de 2011

O CANTADOR DE ROMANCES

Manoel Beca Amaro. Cantador de romances.
Ele nunca estudou em escola regular, mas aprendeu a ler sozinho e desde menino sempre gostou de ler romances e cordéis.

E eu que já imaginava ter visto e ouvido tudo nesta vida, quando já estou prateando os cabelos, agora bato de frente com mais este desafio: contar em poucas linhas a vida e a obra de um homem, velho e de fala mansa, igual a tantos outros velhos, aposentado e na casa dos oitenta janeiros, mas que de repente deu na veneta de gravar um disco cantando romances de cordel.

Manoel Antonio Araújo, mais conhecido por Beca Amaro, pai de seis filhos, todos já criados e donos de suas vidas, nasceu no dia 09 de julho de 1931 no povoado Boa Vista, que na época pertencia a Camocim e hoje pertence a Chaval no Ceará, é o segundo filho dos lavradores da região de Granja, Antonio Amaro de Araújo e Raimunda Fontenele Araújo.

Danado é que nunca estudou em escola regular, mas aprendeu a ler sozinho e desde menino sempre gostou de ler romances e cordéis. Já taludo, tinha por passatempo andar nas casas à noite contando e cantando as histórias que havia lido. Esta prática era muito comum naquela época e lhe rendeu uma memória prodigiosa. Aos 29 anos largou sua terra e se estabeleceu em Buriti dos Lopes, no Piauí, onde passou a trabalhar como vaqueiro e administrador de fazendas.

Foram muitas e muitas delas. A São Caetano, dos Borges, a Monte Alegre, Veríssimo e outras tantas que perdeu a conta. Casou com uma moça da região, Maria da Conceição e com ela teve seus seis filhos. Hoje aos 80 anos resolveu deixar gravado em disco todas as histórias e romances de cordel que lhe deram uma memória fabulosa. Acaba de gravar aquele romance de que mais gosta, o Pavão Misterioso e Outras Trovas.

Mas a coisa não deve fica só nisso não. Encasquetou de gravar para dentro em breve a história de Dimas e Madalena, onde conta histórias dos tempos da Grécia Antiga. Manoel Beca, “seu” Manel, como passei a lhe chamar, este velho alto, de fala mansa e pausada, que conheci no Buriti dos Lopes, de repente me sai com esta de cantador de repente. O disco, ele anda com uma porção deles dentro do bolso da calça, distribuindo para os amigos e os mais chegados.

Eu recebi o meu, quando estava numa festa na Fundação Raul Bacellar, por ocasião das comemorações da Semana da Imprensa. Coloquei no bolso e levei para casa certo de ouvir no outro dia pela manhã. Lembrei de Firmino Teixeira do Amaral, outro que eternizou este gênero, mas que viveu numa época em que não havia como registrar obras tão preciosas. Ouvi Manoel Beca cantando seu romance, Pavão Misterioso e Outras Travas e adorei. E lembrando aquela máxima dos antigos, “misteriosas são as coisas de Deus”.

Por: Pádua Marques, jornalista para o Portal Boca do Povo.

2 comentários:

P.C. disse...

São histórias assim de pessoas simples e esforçadas como seu Beca que gosto de ler.
Parabéns ao Padinha pela matéria.

Rai disse...

Esse Seu Manel!!! E eu que não sabia por onde ele andava, porq não vejo mais aqui em buriti, e agora virou celebridade!!!