quarta-feira, 22 de abril de 2015

ARTIGO

Brasília, o Eldorado da Parnaíba

Nesse 21 de abril, Dia de Tiradentes e da fundação de Brasília, capital do Brasil, há 55 anos volto minhas lembranças de menino praqueles dias de grande esperança que tomaram conta de tantos brasileiros, nordestinos e em particular muitos, mas muitos parnaibanos. Eu imagino e até devem ter estatísticas sobre isso que o estado brasileiro e nordestino que mais mandou imigrantes pro Planalto Central de Goiás foi o Piauí e especialmente sua cidade da beira do mar, Parnaíba.

Eu mesmo ainda tenho parentes que saíram daqui da Parnaíba com uma mão na frente e a outra atrás naqueles idos de 1960 e logo que lá chegaram mandarambuscar a família, mãe, mulher, os filhos, cunhados e sobrinhos. Porque Brasília representava naquele momento uma vida longe das dificuldades de se viver e sem ter como sustentar uma família grande e numa cidade feito a Parnaíba, que havia tempos estava com sua economia paralisada.

Eu era pequeno, pouco mais de seis anos e me lembro de uma tia de minha mãe, chamada por todos nós de Tia Nega, moradora na Guarita, prima do poeta Firmino Teixeira do Amaral. E esta nossa tia-avó, lavadeira e viúva de Manoel Alemão,foi pra lá por volta de 1962 se juntar aos filhos e filhas que já estavam trabalhando na nova capital. Foi na companhia de duas filhas ainda solteiras. Tempos depois mandava carta dizendo que estavam todos bem e estabelecidos. Tinham barracos próprios e a vida seguia em frente.

Vez por outra, geralmente na época do Natal e São João, ela e as primas de minha mãe, assim como ainda hoje fazem muitos migrantes parnaibanos e seus descendentes, vinham passar as festas na boa terra. Vinham matar a saudade da Parnaíba e contar as boas novas de como estavam vivendo na cidade construída com muito suor dos candangos e a sabedoria de Juscelino. Agora vinham pelo avião da Cruzeiro do Sul ou pela Varig. Nada de caminhão coberto de lona, feito na ida, tomando poeira na venta e comendo farofa de galinha frita e bebendo água quente.

E assim foi aquele início pra milhares de parnaibanos puxados pela necessidade nas terras distantes de Goiás. Saiam daqui às pencas, muitos apenas com o dinheiro da passagem e deixando mulher e filhos, mães, irmãos, pais e amigos.  Depois de suportarem uma viagem de quinze ou até vinte dias dentro de paus-de-arara pra finalmente trabalharem na construção civil.  Poucos conseguiam coisa melhor e mais leve quando tinham leitura, ou seja, sabiam ler, contar e assinar o nome.

Anos depois já estavam com a família estabelecida e partindo pra segunda geração. E são muitas as histórias que certamente muitos e muitos parnaibanos de Brasília têm hoje pra contar dessa longa e sofrida travessia. Mas se foram às carradas em cima de caminhões, muitos mais afoitos até caminhando por meses pra encararem uma nova vida, o mesmo não se pode dizer da nossa representação política e parlamentar na capital do Brasil. Parnaíba, salvo engano, só mandou nestes 55 anos de Brasília, Chagas Rodrigues, Pinheiro Machado e Alberto Silva. Pouco, muito pouco mesmo pra muito tempo.

Por: Antonio de Pádua para o Portal Boca do Povo

Nenhum comentário: