Piauí
começa a soltar seus papagaios políticos
“O escritor
Antonio de Pádua estará escrevendo seus artigos todas às sextas-feiras neste
blog”.
Essa semana me ocorreu de ler nos blogs e portais
da região que na minúscula Caxingó, uma antiga colônia de Buriti dos Lopes, o
IBAMA achou de soltar no meio do tempo, na natureza, uma quantidade até boa de,
imagine só, papagaios. Estas aves haviam sido engaioladas em média uns trinta
anos e de lá certamente nunca mais sairiam voando pelas próprias asas. E mais
certamente que pela idade avançada morreriam de tédio, dementes, comendo coisas
de arroz, feijão, quando muito um pedaço de goiaba ou banana, ficando carecas e
faltos das penas do rabo e com os pés cheios de cascas bem grossas.
Perderam, portanto a noção de como se voa e se
procura a própria comida na natureza. Estavam feito, mal comparando aqueles
velhinhos das casas de repouso e que por imposição destes estabelecimentos tão
cruéis são obrigados a ficar sentados o dia e a tarde e muitas das vezes
comendo aquilo que nem gostam, pra só mudarem de posição na hora de dormir. Uma
vida mais triste pra quem de certa forma fez em maior ou menor grau alguma
coisa pela continuação da sua espécie. E os papagaios do Caxingó passaram por
esta situação por um bom tempo.
Estas aves da terra de Deoclides ainda tiveram em
vida a sorte de encontrarem um órgão do governo feito o IBAMA e gente da
população que lhes libertassem do jugo da escravidão da gaiola ou do poleiro lá
no findo da cozinha e sendo obrigados pelas circunstâncias a ficarem repetindo
palavras que aos olhos dos curiosos e das visitas eram sempre motivo de graça
porque não sei quem foi que meteu na cabeça de achar que papagaio sabe falar. E
muitos desses coitados já eram até tratados como pessoa da família, com nome e
sobrenome.
E ocorre agora lembrar que este episódio do
Caxingó ao soltar seus louros remete a uma observação que se dará dentro de
mais alguns meses, coisa de mais de um ano contando de hoje, quando tem início
a corrida pelas prefeituras. E o Piauí, este poleiro de exímios papagaios
políticos profissionais vai mais uma vez mostrar esta parte exótica de sua
fauna. Se ponham pra ver. Ouçam o que estou dizendo. Serão as mesmas pessoas de
há uns trinta e tantos anos, carreiristas, gente que faz meio de vida e até se
aposenta dentro das câmaras municipais ou se revezando com um filho, um
sobrinho ou a própria mulher na cadeira de prefeito.
A partir do ano que vem serão as mesmas promessas,
as mesmas conversas bestas sobre educação, saúde e segurança. E vão eles de
porta em porta feito papagaios, essas aves exóticas, falando e repetindo as
mesmas coisas, visitando os bairros mais sofridos e necessitados, abraçando
bêbados e desdentados, beijando mulheres que puxam meninos pelo braço enquanto carregam
outro no colo. Mais adiante vão pagando um quilo de galinha pra um aqui e mais
na frente aviando uma receita de remédio pra outro. Por enquanto o Piauí,
Caxingó como exemplo, soltou seus papagaios de penas. Ano que vem são os
papagaios de calça e camisa.
Por:
Antonio de Pádua para o Portal Boca do Povo
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