EDITORIAL

Domingos Cardoso Filho

Facebook ou Fuxibook?

Pesquisa feita recentemente por uma empresa que desenvolve um trabalho de treinamento corporativo, chamada VitalSmarts, afirma que “redes sociais podem acabar com amizades reais”, pois desrespeito e insultos online estão acabando com amizades na medida em que as pessoas estão ficando mais rudes nas mídias sociais, ou seja, dois a cada cinco usuários, cortaram relações com um amigo e/ou conhecido após uma “briga virtual”.

O que me chama atenção, e não é de hoje, e isso não é a pesquisa que mostra, mas o dia-dia; é como as pessoas nas redes sociais têm o comportamento muito mais agressivo do que quando está frente a frente com seu semelhante. Uma ferramenta como o Facebook, por exemplo, que já se popularizou no Brasil ao lado do Twitter, que entre outros fins positivos pode ser usado para localizar amigos que sumiram do nosso dia-dia e parentes distantes, bem como servir de fórum de discussão sobre temas sociais, políticos e econômicos, não pode ser usado de forma vulgar e irresponsável como está sendo usado por algumas pessoas de nossa cidade. É obvio que tal comportamento não é exclusividade só nossa, porém, o foco do texto é único e exclusivamente minha cidade, Buriti dos Lopes.

Estão fazendo das redes sociais uma verdadeira “lavanderia virtual”. É muita baboseira postada na linha do tempo das pessoas; coisas sem nexo, coisas sem nenhum conteúdo cultural e nem espiritual. É preciso que haja uma reciclagem urgente. A coisa está tão banalizada, tão esculhambada que já estou pensando seriamente em desistir desse tal facebook. Não se respeita mais a índole das pessoas e ao invés de se postar coisas interessantes o que se ver são acusações infundadas sem prova alguma das pessoas. É um tal de “fiquei sabendo” que fulano é isso e beltrano é aquilo, enfim, todo mundo diz que sabe algum “podre” de alguém. Estão confundindo rede social com jornalismo, e isso é um grande erro, porque não tem nada a ver; jornalismo é coisa séria, que tem fundamento, conteúdo e responsabilidade. Não se deixe influenciar por “posts” de 140 caracteres.

Já são milhares de “fakes” (perfis falsos) criados para ocultar a identidade real de um usuário. O “anônimo” da rede beneficia a agressividade. Até entendo que essa agressividade é muito mais um “manifesto”, afinal eu posso dizer o que quiser e ninguém vai saber quem eu sou, invento qualquer pseudônimo e pronto. É claro que em última instância tem como saber quem é, mas até que os órgãos competentes descubra a verdadeira identidade do autor, o comentário já pode ter causado um grande estrago na vida de alguém, que às vezes poderá ser irreversível.

A sutileza entre uma coisa e outra na internet é muito grande, do ganho pra perda, por exemplo, basta uma frase maldita, mal colocada em algum “post” que você perde uma amizade pra sempre. É preciso ter muito cuidado com o que se diz; já li “posts” em que pessoas são acusadas de serem traficantes, gigolôs, bandidos, cornos, cachaceiros, enfim, a lista de acusações é enorme.

Pessoas estão rompendo amizades de longo tempo simplesmente porque travaram discussões “acaloradas” no facebook por discordarem de um determinado assunto e/ou porque faz parte de um determinado grupo político. É louvável que haja divergências partidárias, afinal, debates e posicionamentos diferentes numa democracia são sempre bem-vindos e importantes, mas será que amizade, respeito e consideração não são mais saudáveis do que uma "salada de partidos" que daqui a quatro anos poderão está todos na mesma tigela para você degustar? Tem gente, por exemplo, defendendo partido sem saber nada da história daquela legenda; como ela foi criada, quem foram seus idealizadores, com qual ideologia política ela foi criada, etc. e tal. Sem falar na falta de vocabulário e nos erros grotescos de português, meu Deus! É inadmissível ler “surgeira”, “extranheza”, “enformar”, “idonios”, “lá” (no sentido de residência) e por aí vai..., mas isso é outra discussão, fica pra outra oportunidade.  

Um dia desses li um artigo super interessante dizendo que “facebook não é um divã”; se você brigou com seu namorado (a), com sua mãe ou com seu chefe, os seus 500 seguidores não precisam saber disso, inclusive, é para isso que servem os amigos. Tem coisas que você não diria a sua esposa, a sua mãe ou ao seu psiquiatra, por que você deveria postar no seu facebook? Confissões e compartilhamento de assuntos pessoais só geram informação demasiada e chata. Nesse mundo globalizado, onde a internet é uma das principais ferramentas de comunicação entre as pessoas, temos que ter muito cuidado com o que postamos; a rede trouxe inúmeras vantagens e desvantagens, depende da forma como é utilizada e por quem é utilizada. É preciso que a gente também evolua, e evoluir é reconhecer nossos erros; não para consertá-los, mas para não repeti-los. É necessário ter respeito pelas escolhas individuais, pois feliz é aquele que vê a felicidade do outros sem ter inveja.

Nada adianta o Brasil ter crescido consideravelmente nos últimos anos, ser considerada a sexta economia do mundo; ter mais lares com internet; mais jovens em universidades; mais poder de compra das classes C e D, enfim, tanto progresso se não evoluiu em educação e cultura. Sabemos que muita coisa pode mudar a partir da aprovação do Marco Civil da Internet que está em tramitação no Congresso Nacional, juntamente com mais dois projetos, mas independentemente de existir lei específica pra isso ou não, devemos fazer nossa parte filtrando na nossa consciência aquilo que postamos, afinal não basta só a lei te proibir, é preciso que cada um faça sua parte, principalmente sendo criterioso no conteúdo publicado e usando o respeito mútuo aos demais usuários da rede.

Está na hora da gente aprender que não é qualquer coisa que se põe em uma rede social, não é qualquer foto que se publica; está em questão a nossa segurança e das pessoas que a gente expõe; os empregos; os nomes das empresas que a gente publica, enfim, é preciso ter consciência de que usar a internet e publicar algo não é apenas uma brincadeira; tem que ter muito cuidado, sensatez, postura, serenidade e acima de tudo RESPEITO.

Domingos Cardoso Filho

Brasília - DF