Essa
garrafa pet é danada mesmo.
Em meus tempos de Grupo Escolar Epaminondas
Castelo Branco, no hoje bairro São Benedito, que já foi bairro de Fátima e mais
antes foi Macacau, nossas professoras nos ensinaram que a carnaubeira era uma
árvore que dela se aproveitava de um tudo. Outra criação de Deus e que eu
também aprendi naquela época de que tudo dele se aproveitava, era o boi. Nossas
professoras deixavam pra nós, crianças ignorantes, a tarefa de nomear todos os
objetos domésticos de que era possível se obter desse animal fabuloso.
Da carnaubeira, essa árvore tão presente e tão
vizinha nossa aqui da Ilha Grande de Santa Izabel, do chamado outro lado do
rio, os entendidos afirmam que produz o pó que acaba dando a cera, utilizada em
centenas de produtos na indústria. A madeira serve pra construção de casas,
cercas, mourões de currais, tronco pra amarrar jumento na porta da casa de
caboclo. Também serve como banco na entrada da fazenda e onde os cabras
desocupados das casas do interior vem todo dia sentar e conversar fiado.
Garrafa pet tem é tido trabalho. Fizeram dela
também vassouras pra varrer terreiro, desentupidor de pia e ralo de banheiro,
medidor de farinha, arroz e goma de tapioca. Mais adiante vem servir pra fazer
uma tal de casa ecológica, telha, botes
e coletes salva vidas e armadilha pra pegar mosquito da dengue. Mais tem
é coisa, doutor! Serve pra fazer enchimento de judas, funil, cinturão, forma
pra fazer pudim, enfeite de árvore de Natal, vasilha pra tirar motorista
desprevenido em meio de estrada na hora de comprar gasolina, arruela pra
torneira que está pingando.
Mas na semana passada a garrafa pet entrou
finalmente na indústria médica e hospitalar de um jeito, vamos dizer assim,
informal. E não foi coisa de alemão, italiano ou americano, não. Foi no Brasil.
Foi lá na perdida Jutaí, no Amazonas, 751 quilômetros de Manaus. Longe que nem
o inferno. Lá do caixa-prego pra uma banda. Dois irmãos gêmeos, nascidos de
sete meses tiveram a infelicidade de vir ao mundo no hospital daquela cidade.
Com problemas de
infecção respiratória, por falta de máscaras de ventilação os médicos
improvisaram nos dois bebês a utilização de uma engenhoca feita com a parte
afunilada da garrafa pet. Ora menino, como dizia minha mãe, deu que virou!
Mas o diabo tem uma mão tapada e a outra
furada. O malfeito dos abnegados médicos
amazonenses foi descoberto. Caiu nos olhos e nos ouvidos da imprensa e das
redes sociais porque uma das crianças achou de morrer. Quando ficou impossível esconder o descaso, a
Secretaria Estadual de Saúde, tentando tirar o dela da reta, como sempre,
informou que está investigando o caso.
O governador José Melo (PROS) achou de minimizar
sua incompetência colocando a culpa nos médicos. Disse que ninguém lhe informou
sobre a precariedade dos hospitais do Amazonas no interior. E precisa?
Eu não me canso de dizer que os brasileiros
realmente só são pobres porque são burros! Onde já se viu uma simples garrafa
pet, dessas que a gente compra com refrigerante no supermercado ou na venda da
esquina, servir pra tanta coisa! Eu estou até fazendo aqui de pronto um desafio
pra quem quer que seja me dizer outras e mais outras utilidades pra essa
vasilha.
Pensando bem eu estou até pensando correr na
semana que vem num desses bancos do governo, Banco do Brasil, Caixa Econômica
ou Banco do Nordeste, atrás de um financiamento de uns 300 milhões de reais pra
abrir uma indústria de máscaras de ventilação hospitalar. Pronto, achei a
saída.
Por:
Antonio de Pádua para o Portal Boca do Povo
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